Cuidado Centrado no Paciente e na Família e o legado da era COVID-19

A COVID-19 chegou e as portas das unidades hospitalares fecharam-se de vez para as famílias. O foco inicial era na compreensão sobre o vírus, prevenção, redução da transmissibilidade, tratamento e cura de uma nova doença que assolava a humanidade. Ganhamos em pouco tempo conhecimento técnico-científico e avançamos ferozmente para combater o novo inimigo. Paralelamente, fomos perdendo o aspecto humano do cuidado, as relações com os pacientes e famílias ficaram marginalizadas.

Deveras, sejamos verdadeiros, na era pré-COVID-19 as portas das unidades hospitalares nem sempre estiveram abertas para as famílias. A visão das instituições e dos profissionais de saúde de que a família era parceira e parte da equipe de saúde, como postulada pelo Cuidado Centrado no Paciente e na Família, ainda era utópica. Contudo, já deslumbrávamos um caminho inicial de sensibilização sobre a importância desse modelo de cuidado. Diante do cenário epidemiológico vivenciado, retrocedemos de vez, as famílias foram afastadas dos ambientes de cuidado em saúde, e a implementação do Cuidado Centrado no Paciente e na Família distanciou-se da concretude.

A ausência das famílias com seus entes queridos diante de quadros clínicos que ameaçavam à vida do paciente e, consequentemente, a estrutura e o funcionamento das famílias, seja pela ausência temporária do paciente, seja pelo risco dele se ausentar permanentemente do seu sistema familiar, causou sobremaneira sofrimento à vida humana. Como profissionais da saúde, cuidamos de um lado e descuidamos do outro, quando na verdade só temos um lado, um objeto de cuidado que é indissociável: “paciente e família”.

Abaixo, algumas considerações importantes sobre o Cuidado Centrado no Paciente e na Família:

  • As portas das unidades hospitalares precisam estar abertas 24 horas para as famílias;
  • Família não é visita, família é membro essencial da equipe de saúde;
  • Famílias precisam ser bem-vindas nos ambientes de cuidado;
  • As políticas institucionais devem nortear-se pelos seguintes princípios: dignidade e respeito, compartilhamento e informações, colaboração e participação das famílias;
  • Parceria entre profissionais e pacientes/famílias é o conceito central dessa abordagem de cuidado.

A grande questão é: o legado deixado pela COVID-19 no Cuidado Centrado no Paciente e na Família permanecerá até quando?

O primeiro passo para rapidamente finalizarmos com esse legado deixado pela era COVID-19 é acabar com as políticas e práticas restritivas à presença e participação das famílias nos ambientes de cuidado e nas situações vivenciadas no cotidiano assistencial.

Concluo enfatizando a ideia de que os relacionamentos estabelecidos com o paciente e família são o centro do Cuidado Centrado no Paciente e Família e que cuidar de pessoas é, inquestionavelmente, relacionar-se de forma eficaz com pessoas.

Profa. Dra. Andréia Cascaes Cruz

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Referências recomendadas:
1. Cruz AC, Pedreira MLG. Patient-and Family-Centered Care and Patient Safety: Reflections upon Emerging Proximity. Rev Bras Enferm. 2020;73(6):e20190672. doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0672.
2. Cruz AC, Angelo M. Cuidado centrado na família em pediatria: redefinindo os relacionamentos. Cienc Cuid Saude. 2011;10(4):861-5.
3. Davidson JE, Aslakson RA, Long AC, Puntillo KA, Kross EK, Hart J, et al. Guidelines for family-centered care in the neonatal, pediatric, and adult ICU. Crit Care Med. 2017;45(1):103–28. doi: 10.1097/CCM.0000000000002169

 

Profa. Dra. Andréia Cascaes Cruz
Professora Adjunta
Departamento de Enfermagem Pediátrica
Escola Paulista de Enfermagem