Ensaio clínico da vacina Covid-19 Oxford/AstraZeneca

Por: Lily Yin Weckx

Em 04 de maio de 2020 recebi um telefonema com o convite para conduzir no Brasil o estudo clínico de fase 3 da vacina contra Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford. Foi um sentimento de honra imensa, e sobretudo, de privilégio por poder contribuir no combate à pandemia. Milhares de vidas estavam sendo perdidas por dia e era indiscutível a urgentíssima necessidade de uma vacina.

A equipe Crie-Unifesp trabalhou com total dedicação, sete dias por semana, conduzindo o estudo na velocidade exigida pela pandemia. Coordenamos o estudo no Brasil, que contou com seis centros, incluindo 10300 participantes rapidamente.

A Unifesp participou “de corpo e alma”. É emocionante ver funcionários, alunos, médicos, enfermeiros, docentes, todos se voluntariando para o desenvolvimento de uma vacina para a pandemia.

A vacina Covid-19 Oxford/AstraZeneca foi aprovada para uso emergencial no Reino Unido em 30/12/2020 e pela ANVISA em 17/01/2021, em seguida por EMA, União Europeia e OMS. O Brasil contribuiu substancialmente para o licenciamento da vacina no mundo.

No enfrentamento à pandemia, a rapidez na divulgação dos conhecimentos é fundamental. O estudo da vacina Covid-19 trouxe contribuições relevantes e em menos de dois anos resultaram em quatro importantes publicações:

1 – Voysey M, Costa Clemens SA, Madhi SA, Weckx LY, et al. Safety and efficacy of the ChAdOx1 nCoV-19 vaccine (AZD1222) against SARS-CoV-2: an interim analysis of four randomised controlled trials in Brazil, South Africa, and the UK.

Lancet. 2021 Jan 9; 397(10269):99-111. doi: 10.1016/S0140-6736(20)32661-1. Epub 2020 Dec 8.

Nesta primeira análise interina, a eficácia vacinal após duas doses padrão da vacina foi de 62,1%. Todas as hospitalizações foram no grupo controle, nenhum no grupo vacina. A vacina apresentou bom perfil de segurança. Estes dados forneceram embasamento para o licenciamento para uso emergencial da vacina.

2 – Voysey M, Costa Clemens SA, Madhi SA, Weckx LY et al. Single-dose administration and the influence of the timing of the booster dose on immunogenicity and efficacy of ChAdOx1 nCoV-19 (AZD1222) vaccine: a pooled analysis of four randomised trials.

Lancet. 2021 Mar 6; 397(10277):881-891. doi: 10.1016/S0140-6736(21)00432-3. Epub 2021 Feb 19.

Na segunda análise interina, os resultados mostraram que os anticorpos suscitados após uma dose se mantem elevados por três meses e que a eficácia é maior com intervalo maior entre as doses. Estes resultados serviram de embasamento para adoção de esquemas com intervalo de 12 semanas entre as doses nos programas de vacinação.

3 – Clemens SAC, Folegatti PM, Emary KRW, Weckx LY, et al. Efficacy of ChAdOx nCov-19 (AZD1222) vaccine Against SARS-CoV-2 lineages circulating in Brazil.

Nature Communications 2021 Oct 6; 12(1):5861. doi: 10.1038/s41467-021-25982-w

Swabs de naso e orofaringe foram testados por PCR em participantes sintomáticos. Foram realizados sequenciamento e genotipagem para determinar as linhagens circulantes durante o estudo. A eficácia vacinal (VE) para Zeta (P.2) foi de 69% (95% IC 55,78). Para B.11.28 a VE foi de 73%. A variante Gamma (P.1) surgiu mais tardiamente no estudo com poucos casos disponíveis para análise. ChAdox protegeu contra variantes emergentes no Brasil apesar da presença da mutação E484K na proteína spike.

4 – Costa Clemens SA, Weckx L, Clemens R, Mendes AVA, et al. Heterologous versus homologous COVID-19 booster vaccination in previous recipients of two doses of CoronaVac COVID-19 vaccine in Brazil (RHH-001): a phase 4, non-inferiority, single blind, randomised study.

Lancet. 2022 Jan 21;  DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(22)00094-0

Seis meses após imunização com duas doses de Coronavac, as concentrações de anticorpos estavam baixas, principalmente naqueles acima de 60 anos. A administração de uma dose de reforço induziu aumento nos anticorpos IgG anti-spike e anticorpos neutralizantes, mais com vacinas heterólogas (Pfizer, AstraZeneca e Janssen) que com vacina homóloga (Coronavac).

Profa. Dra. Lily Yin Weckx