O enfrentamento da pandemia foi com certeza o maior e mais importante desafio do Hospital São Paulo desde a sua fundação
Por: Prof. Dr. José Roberto Ferraro e Prof. Dr. Eduardo Medeiros
Em janeiro de 2020, começaram as notícias de uma pneumonia viral que estava evoluindo como um surto na província de Wuhan, China. Como o Hospital São Paulo já tinha enfrentado surtos anteriormente como o da Influenza H1N1 (2009) e de sarampo (2019), acompanhamos com muita preocupação a situação. Constituímos um Comitê de Enfrentamento à Infecção pelo Coronavírus, posteriormente SARS-CoV-2 (COVID-19) e iniciamos reuniões com diversos setores do hospital para avaliar leitos de isolamento, manutenção dos quartos com ar-condicionado e capacidade para receber pacientes que precisassem de isolamento respiratório. A seguir, fomos adaptando toda a capacidade assistencial para receber os pacientes com segurança e garantindo um atendimento adequado.
Um ponto fundamental foi estabelecer o diagnóstico rápido do caso com suspeita de infecção pelo novo coronavírus. Assim, fortalecemos o Laboratório de Virologia da Disciplina de Infectologia para o diagnóstico rápido dos pacientes com suspeita de COVID-19. Esse foi um ponto fundamental, pois conseguimos realizar o diagnóstico da infecção pelo SARS-CoV-2 em menos de 24h. Dessa forma, tornou-se possível definir um fluxo rápido dos pacientes para os leitos de isolamento em unidades específicas. Um segundo ponto, com o aumento do atendimento no Pronto Socorro, foi a criação de uma estrutura específica, separada da emergência, para os pacientes sintomáticos respiratórios. Criamos uma Unidade de Infecção Respiratória (UIR) com atendimento próprio. Com o aumento das internações foram ampliados os leitos de enfermaria e de unidade de terapia intensiva.
Todos os dados de internação, atendimento na UIR, notificação de novos casos à vigilância epidemiológica, resultados de exames positivos eram monitorados diariamente e, semanalmente ou sempre que necessário, em reuniões do Comitê de Enfrentamento da COVID-19, estabelecemos fluxos e prioridades para a assistência. Foram criados mais de 60 indicadores para acompanhamento diário.
Desde o início da pandemia, existiu uma enorme preocupação em disseminar informações adequadas e baseadas em evidências científicas. Foi criado um espaço específico no site do Hospital São Paulo e no da Unifesp, atualizados frequentemente, com os protocolos, fluxos de pacientes e informações técnicas sobre a evolução da pandemia. Semanalmente, os dados do HSP foram apresentados em conjunto com informações do cenário epidemiológico mundial, do Brasil e de São Paulo. Foram ministradas cerca de 200 aulas e treinamentos presenciais para todos os alunos da graduação, residência médica e multiprofissional, pós-graduandos e para os colaboradores do hospital São Paulo com todas as medidas de segurança. Vídeos e aulas on line foram produzidos e divulgados com foco no treinamento de uso de equipamentos de proteção individual e medidas de prevenção da infecção. Um Curso foi produzido com o patrocínio da Associação Paulista de Medicina (APM-SP) sobre manejo da COVID-19. Em 2020 foi realizado o Primeiro Webinar COVID-19 da EPM-Unifesp com a participação de 4.000 ouvintes. Também, elaboramos 17 Normas Técnicas que foram distribuídas para as comunidades, semanalmente, com informações sobre medidas de prevenção e vacinação dos profissionais de saúde. Criamos leitos de UTI e modificamos enfermarias para que pudéssemos atender COVID e não COVID de maneira adequada. Chegamos a ter 81 leitos de UTI e 83 leitos de enfermaria e Pronto Socorro aberto.
Enfim fomos capazes de fazer tudo isso à semelhança de outros centros universitários em todo o mundo.
É bem verdade que durante esse período houve muito sofrimento físico, financeiro e emocional, mas que foram vencidos um a um.
Temos um enorme orgulho dos nossos servidores, celetistas, residentes médicos, residentes multidisciplinares, nossos pesquisadores, docentes, alunos de graduação e pós-graduandos, da EPM, EPE, Reitoria, SPDM, Colsan … e da sociedade como um todo, pois a quantidade de doações que recebemos foi enorme e emocionante. Recebemos desde um bolo ou pizza na madrugada para os plantonistas do PS até milhões de reais e equipamentos.
Nosso muito obrigado a todos.
Não deixamos em nenhum momento de seguir as normas estabelecidas pela SMS, SES, MS ANVISA e OMS. Participamos inclusive da fase de vacinação contra essa terrível doença. Chegamos a vacinar em torno de 10.000 colaboradores.
O Hospital São Paulo como matriz da SPDM e como HU da Unifesp conta com excelentes pesquisadores que contam com uma rede acadêmica assistencial enorme, capazes de proporcionar pesquisas importantes para enfrentamento dessa doença.
Prof. Dr. José Roberto Ferraro |
Prof. Dr. Eduardo Medeiros |